Os 50 anos de Satoshi Tajiri, o criador de Pokémon
Satoshi Tajiri, em 1999. |
Satoshi Tajiri cresceu na cidade japonesa Machida. Filho de um vendedor de carros e de uma dona de casa, era descrito pelos amigos como incrivelmente criativo, mas excêntrico e solitário. Antes de entrar para o mundo dos games, seu desejo era se tornar um entomologista (ramo da zoologia que estuda os insetos), já que, por viver numa área rural, seu hobby na infância era procurar e capturar insetos, o que lhe concedeu o apelido de Dr. Inseto. Conforme Machida se tornava uma cidade industrializada e a vida urbana crescia de forma acelerada, as brincadeiras de Tajiri cessaram-se gradualmente.
Satoshi Tajiri quando era criança (à esquerda) e adolescente (à direita).
Na adolescência, se tornou um jogador de arcade ávido e adorava jogar Space Invaders, da desenvolvedora Taito Corporation, chegando a ter um fliperama na própria casa. Aos 16 anos, ganhou um concurso de design patrocinado pela Sega (rival da Nintendo). Esta fascinação por videogames prejudicou a sua vida escolar: não gostava de estudar, matava aulas e quase não conseguiu o diploma de ensino médio. Seus pais frequentemente ficavam chateados e achavam que ele estava descartando o seu próprio futuro; seu pai tentou arranjá-lo um emprego de reparador numa concessionária de energia elétrica de Tóquio, mas Tajiri recusou-se a assumir o cargo. Não chegou a ir para a faculdade, formando-se num curso técnico de eletrônica e ciência da computação no Colégio Nacional de Tecnologia.
Capa da 13ª edição da revista Game Freak. |
Aos 17 anos, Tajiri criou uma fanzine (revista por fã) chamada Game Freak, que tinha como assunto os jogos de arcade. No começo, a revista era escrita a mão e grampeada, se tornando impressa posteriormente. Foi graças a ela que o japonês conheceu Ken Sugimori, que mais tarde se tornaria o principal designer e ilustrador de Pokémon, que conheceu a revista numa loja de doujinshi e se envolveu na redação. Game Freak tinha boas vendas e se tornou bastante popular entre os gamers. Percebendo que a qualidade dos jogos que eram publicados na edições vinha caindo e somado ao interesse de desenvolver um, Tajiri decidiu criar o seu próprio jogo com a ajuda de Sugimori. Estudando e analisando a programação de jogos, ele então comprou o hardware necessário para poder desenvolver um jogo. Em 1987, os dois lançaram seu primeiro jogo em estilo arcade, Mendel Palace. Três anos depois do término da Game Freak (a revista durou 5 anos, de 1981 a 86), Tajiri e Sugimori evoluiram a revista para uma empresa, a Game Freak Inc.
Gameplay de 'Mendel Palace'.
Em 1990, ao ver um Game Boy, Tajiri se interessou pelo aspecto comunicativo entre dois portáteis, tendo suas primeiras ideias de Pokémon no mesmo ano. Pokémon, para Tajiri, seria uma forma de fazer as crianças japonesas sentirem como era sua infância, capturando criaturas e se divertindo. Assinou contrato com a Nintendo, que ficou impressionada com o design elaborado por Tajiri e que, mesmo não entendendo totalmente o conceito, estava disposta a considerar sua nova ideia, dando-lhe assim carta verde. A programação começou. Shigeru Miyamoto, o gênio por trás de Super Mario Brothers. e a quem Tajiri credita como sua maior influência, guiou-o durante o processo de criação. Durante os 6 anos de produção, o desenvolvimento de sua futura maior franquia quase fez a Game Freak falir; muitas vezes, mal havia dinheiro para pagar os empregados, o que ocasionou a saída de cinco. Tajiri não recebia nenhum salário, era sustentado pelo seu pai e raramente ganhava uns trocados por outros jogos, como Yoshi (1991) e Pulseman (1994).
Quando Pokémon Red e Pokémon Green foram concluídos, nenhum meio de comunicação deu atenção, acreditando que o Game Boy estava acabado; a falta de merchandising deixou Tajiri convencido de que a Nintendo iria rejeitar os jogos ou que eles não iriam bem nas vendas. Para a surpresa de todos, os jogos foram lançados e as vendas aumentaram de forma constante, até consolidar a recém-nascida franquia como uma das principais da Nintendo. Os rumores de um oculto Pokémon (Mew), que poderia ser obtido somente através da "interação", atraiu ainda mais a atenção do público japonês.
.:. A possível diagnosticação de Asperger
Tajiri tem uma tendência a se afastar dos olhos do público. Ele ainda participa do desenvolvimento da franquia, mas muito raramente faz aparições. A possível causa disso foi relatada no livro Satoshi Tajiri: Creator of Pokémon, de Lori Mortensen, lançada em 2009. A biografia foi a primeira fonte a dizer que Tajiri havia sido diagnosticado com síndrome de Asperger na infância. A síndrome de Asperger é caracterizada por dificuldades na interação social. Além disso, pessoas com Asperger têm interesses específicos e intensos, tais como a fascinação por insetos que Tajiri tinha quando criança.
A síndrome de Asperger é muito semelhante ao autismo (esta tabela mostra a diferença entre os dois), sendo chamada por alguns médicos de "espectro de autismo". Por possivelmente ter a síndrome, a mente de Tajiri é muito diferente em comparação a um cérebro humano comum. Enquanto o nosso cérebro processa cerca de 13 a 30 ciclos de energia de ondas cerebrais por segundo, indivíduos com espectro de autismo superam isso, podendo chegar a 250.000 ciclos de energia de ondas cerebrais por segundo. Como escrevi no começo, colegas o considerava criativo, mas excêntrico e solitário. Essas características são típicas de pessoas com síndrome de Asperger; enquanto elas são altamente funcionais, a interação social é difícil para elas. Talvez esse seja o motivo das poucas aparições de Satoshi Tajiri na mídia.
Contudo, mesmo com a biografia e as coincidências que Tajiri tem com portadores da síndrome, não há nenhuma confirmação oficial. Em 2013, um fã disse ter enviado um e-mail à autora da biografia pedindo as fontes de onde ela havia tirada a informação. Lori Mortensen respondeu que a informação havia sido retirada de uma página no MySpace que supostamente pertencia a Tajiri; logo, não é uma certeza que ele realmente tenha Asperger.
.:. Entrevistas e a rara participação no Game Center CX
Em Novembro de 1999, Satoshi Tajiri deu uma entrevista ao TIME. Trata-se da entrevista mais conhecida e a única dada por ele a um meio ocidental. Basicamente veio de lá quase tudo o que sabemos sobre ele e ela pode ser lida clicando aqui (em inglês), mas eu separei um trecho traduzido onde ele compara o público japonês com o público do ocidente.
"É interessante, porque no Japão, todo mundo vai pelo Pikachu. Nos EUA, os personagens Ash e Pikachu são colocados juntos. Crianças americanas parecem gostar disso. Nos Estados Unidos existem mais produtos vendidos com Ash e Pikachu, não apenas com o Pikachu. Eu acho que os americanos entendem o conceito de Pokémon melhor do que os japoneses. O japonês foca em Pikachu, mas o que eu acredito que seja importante é o aspecto humano - você precisa do Ash."
No ano de 2007, o Game Center CX, um programa japonês de videogames apresentado pelo comediante Shinya Arino, foi até a sede da Game Freak e conversou com Tajiri. Na entrevista, entre outras curiosidades, ele exibiu a 1ª edição da antiga revista Game Freak, e os dois travaram uma batalha em Pokémon Fire Red/Leaf Green. Ela pode ser assistida abaixo, com legendas em inglês.
.:. Atualmente
A IGN nomeou Tajiri como um dos 100 maiores criadores de videogames da história, principalmente pela sua capacidade em fazer de Pokémon um fenômeno mundial. Não tão presente na franquia atualmente, o criador de Pokémon vem trabalhando apenas como produtor executivo nos jogos principais desde Diamond e Pearl, supervisionando o processo do início ao fim e aprovando todo o texto. Tembo the Badass Elephant é o mais recente título da Game Freak, lançado no ano passado para Xbox One, PlayStation 4 e Windows.
E, por fim, deixo gravado nesta matéria especial o que todo fã brasileiro de Pokémon gostaria de dizer a Satoshi-san...
ありがとう, 田尻 智!
Obrigado, Satoshi Tajiri!
Obrigado, Satoshi Tajiri!
Satoshi Tajiri em 2016. |
Postado por
Anônimo
às
21:02 em 27/01/2016
Sobre Anônimo
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